Aceitação.
O acolhimento do nosso fundamental e indissolúvel destino:
Como é o Processo de Luto e Aceitação da Morte: como nos desenvolver nesse tema. Não tem outra forma a não ser encarando-a com naturalidade, pois a partir disso, não ficará mais angustiado com esse fato.
É interessante quando se diz “a única certeza que temos é a morte”, mas como é difícil aceitar nossa morte, mesmo que se acredite na vida eterna. Por outro lado, de certa forma, ao não “lembrarmos de nosso destino; a morte, vivemos basicamente na incerteza.
No belo filme ‘Além da linha Vermelha’, um soldado na guerra diz “Morte, como vou lhe temer, eu pertenço a você”.
© Copyright – Bacellart Psicólogo USP. O ensaio aqui publicado pode ser reproduzido; no todo ou em parte, desde que citados o autor e a fonte.
É saudável assumir a situação e dar continuidade ao viver:
1) ‘chorar o necessário’, não ficar reprimindo o sentimento; entender como natural ficar muito triste, até uma depressão por uns meses, até ir se recuperando. Chorar faz bem, pois externamos nossas dores.
2) Aceitação e Resiliência, são as palavras chave para ir desenvolvendo nesse momento tão difícil. Pode vir uma revolta contra ‘o destino’, ‘a vida’, ‘o universo’, Deus; também pode fazer parte, contudo, é o momento de adaptação a nova vida que continua.
3) Recebo muitas pessoas literalmente arrasadas, sobretudo quando a pessoa que faleceu tinha uma forte ligação amorosa, como pais; e a pessoa não estava tão fortalecida emocionalmente para essa perda, sobretudo as que ocorrem inesperadamente. Algumas pessoas, sentem que sua vida mudou muito e nunca será mais a mesma; e de fato ocorre mesmo isso. De qualquer forma, o processo de luto ‘ainda continuar chorando’ (não reprimindo o sentimento, e o processo de aceitação, precisam continuar.
É o nosso Destino, faz parte da vida:
E é como um grande filósofo da fenomenologia existencial do Ser trata a questão, somos ‘ser-para-a-morte’, é para onde estamos destinados. E é a partir disso que podemos lembrar de nossa existência, dar um sentido a ela, ou nos distrairmos com coisas ao nosso redor.
No texto abaixo, que eu achei muito interessante, sobretudo por ser de um humorista, lidando com um tema tão fundamental em nosso viver. Alias, também dizem “basta estar vivo para morrer”, mas parece palavras soltas no ar, não costumamos nos apropriar delas; lembrar que vamos a morte é inerente ao existir e encarar a perda de queridos.
É preciso saber envelhecer para morrer em paz, ter uma morte digna e assumir o luto por alguém amado. Aceitar a decadência do corpo e da mente/psiquê.
Quanto mais amadurecida o indivíduo, melhor ele lida com essas questões essenciais da existência, por sorte geralmente as pessoas mais velhas já estão mais preparadas para isso.
O que costumo ver, são pessoas que não estão preparadas para a perda de entes queridos, mesmo que estes estejam na casa dos noventa anos, elas precisam aceitar, conformar-se, irem se acostumando.
Morrer é chato, parte do texto de Ricardo Araújo Pereira –
Com meus complementos:
É um poema de Roger McGough: “Todo o dia, / Eu penso sobre a morte. / Sobre doença, fome, / violência, terrorismo, guerra, / o fim do mundo. // Isso ajuda / a me distrair dos problemas.” Tento fazer o mesmo exercício. Pensar na morte, sobretudo na minha, anima muito o meu dia.
Tudo o que é bom acaba –e é provavelmente por isso que é bom, o que significa que a vida é melhor por causa da morte. Talvez se possa argumentar, no entanto, que, se a ideia da morte acaba por ser simpática, o ato de morrer traz alguns aborrecimentos. A existência cessa, e isso é inevitável. O que verdadeiramente me enfada é o fato de a morte ser meio brega. Todos os meus amigos sabem que, enquanto vivo, eu nunca me deitaria num leito de cetim com rendas. Mas é lá que vão me colocar, quando eu morrer. Estarei rodeado de uma circunspecção que sempre rejeitei em vida, e essa é a verdadeira derrota –uma que eu não merecia. Haverá silêncio, respeito, consideração. Que raiva. “Eu, solene? Nem morto”, fui dizendo muitas vezes. E, afinal, serei obrigado a quebrar a promessa.
Outro dia, um casal cruzou comigo na rua. De repente, o homem caiu: estava tendo um enfarte. A mulher puxava-lhe a roupa e gritava: “Não, Jorge! Não! Não faz isso comigo, Jorge!” A multidão condoeu-se com o desespero dela; eu, que não gosto que gritem comigo, simpatizei com ele.
Chamo a atenção desse artigo; acrescentando de minha parte a filosofia existencial, em o seu “Desvelar do Ser”; em que Ricardo Pereira continua:
Meu principal talento é descortinar desumanidade em declarações aparentemente humanas. Por exemplo: quando, nos filmes, o bandido aponta uma arma e a vítima implora: “Por favor, não dispare. Eu tenho família”. Todo mundo chora a sorte da vítima; eu deploro sua crueldade.
O que aquelas palavras significam é: “Escuta, porque é que você não vai antes matar um órfão? Procure alguém que, por estar completamente sozinho no mundo, não possua um argumento atendível para evitar que você lhe dê um tiro.” É bárbaro –tanto quanto repreender um moribundo por estar morrendo, como se ele estivesse nos ofendendo pessoalmente com sua caprichosa morte.
Por isso, eu me aproximei do homem e contrapus: “Vai, Jorge. Se você quer ir, vai. Ela fica bem, Jorge. Talvez fique triste durante um mês, dois no máximo, mas depois o tempo cicatriza a ferida e ela volta a rir, quem sabe até casa de novo. Pode ir descansado, Jorge”.Creio que fiz o meu dever. Pelo menos foi esse pensamento que me reconfortou, enquanto fugia da viúva e da multidão.
Conforme se amadurece, pensar no ‘Luto, na nossa Morte e o Morrer – como algo da vida’; se encara com naturalidade, não se revolta nem fica tentando escapar de diversas formas como; excesso de diversão, comida, bebida, viagens, sexo; e tudo o mais que se puder fazer para se distrair.
Link do texto da Folha de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ricardo-araujo-pereira/2017/05/1881050-morrer-e-chato.shtml